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GWM “electrifica” indústria automóvel brasileira
Tempo de liberação:2022-11-01
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A  fabricante automóvel chinesa Great Wall Motors (GWM) tornou-se em pouco tempo uma referência nas relações China-Brasil. Uma referência da importância destas relações e também do futuro, inclusivamente da indústria automóvel brasileira.


A cidade de Iracemapólis, no estado de São Paulo, tornou-se o epicentro desta transformação. Aqui, a fabricante Mercedes-Benz resolveu encerrar as suas operações, alegando prejuízos, e vendeu a fábrica em 2021 à GWM. A proposta da fabricante chinesa é produzir apenas híbridos e eléctricos, de elevada tecnologia. O investimento previsto é de 10.000 milhões de reais (1.900 milhões de dólares). Tudo numa altura em que outro tradicional fabricante, a Ford, também anunciou o fecho das suas operações industriais no Brasil. Mais ainda, a GWM propõe-se a que, a médio prazo, 60% dos bens intermédios sejam de origem brasileira. Os planos de exportação para a região contemplam, na práctica, relançar a indústria automóvel brasileira através dos veículos eléctricos. 


A dimensão do investimento já se faz notar nas relações económicas China-Brasil. Segundo um estudo do Conselho Empresarial Brasil-China, as empresas chinesas investiram em 28 grandes projectos empresariais em território brasileiro, retomando o ritmo de crescimento iniciado em 2016 e interrompido em 2019. 


De acordo com o coordenador do estudo, o director de Conteúdo e Pesquisa do conselho, Tulio Carrielo, entre os novos actores chineses na maior economia sul-americana destaca-se a GWM, que oficializou a sua apresentação em Janeiro deste ano. 


A compra da fábrica de Iracemápolis contribuiu para que, em 2021, as empresas chinesas tenham investido USD 5,9 mil milhões no Brasil, o nível mais alto desde 2017 e 208% superior ao registado em 2020.


“A estratégia de internacionalização da empresa, inclusive para a América do Norte, passa pelo Brasil, primeiro país a produzir [os veículos da GWM] nas Américas. Somos a porta de entrada para todo o continente, já que a empresa pretende aprender aqui a como fazer negócios com os demais países continentais”, afirmou o director de relações governamentais da empresa, Pedro Betancourt, assegurando que o plano de negócios da companhia prevê uma relação de longo prazo.


A GWM é a terceira fabricante automóvel chinesa a investir no Brasil. 


A JAC tentou uma fábrica no Brasil mas está limitada, por ora, a importar automóveis (eléctricos, automóveis, SUV, pick-ups e camiões). A segunda foi a BYD, que se instalou inicialmente produzindo baterias, painéis fotovoltaicos e chassis para autocarros e camiões eléctricos, mas está a lançar sedans e SUV híbridos e eléctricos (ainda importados).


A GWM, a maior fabricante privada chinesa de automóveis, começa a produzir no fim do próximo ano, mas vai comercializar já nos próximos meses automóveis importados da China (SUV e pick-ups). 


O mercado automobilístico brasileiro está entre os dez maiores do mundo. O parque industrial do Brasil é também dos mais modernos do mundo, com fornecedores de componentes e sistemas tecnológicos. 


Entre os fornecedores locais estão a Bosch, ZF, Mahle, Continental, Denso, Delphi e outras. 


A possibilidade de a GWM adquirir uma fábrica em condições operacionais abrevia consideravelmente o tempo necessário para iniciar as suas operações industriais. Ao mesmo tempo, o investimento necessário para comprar uma fábrica pronta é incomparavelmente inferior ao de construir uma de raiz, mesmo sendo necessário proceder a  ajustamentos aos seus projectos. A GWM também irá contar com a experiência de antigos funcionários da fábrica da Mercedes, como o ex-director industrial. 


Segundo o governo do estado de São Paulo e a prefeitura de Iracemápolis, a empresa pode gerar 2.000 empregos directos até 2025, além de 200 a 300 indirectos em serviços de manutenção e mais 500 em outros serviços. A futura rede de recarga do GWM será alimentada principalmente por meio da instalação de painéis fotovoltaicos. Os equipamentos de carregamento serão montados nos pontos de venda e serviços da GWM, onde o carregamento será gratuito e estará disponível para veículos eléctricos de qualquer modelo ou fabricante. Também serão instaladas estações de recarga em grandes estabelecimentos comerciais, como estacionamentos, centros comerciais e supermercados.


A nível comercial, a GWM pretende chegar a 130 concessionários até o fim de 2023, oferecendo ao mercado uma gama de híbridos (inclusive os plug-in) e puramente eléctricos. A empresa que aposta na electrificação, em que os fabricantes automóveis chineses têm vindo a ganhar competitividade, e em novas tecnologias, já declarou ser sua intenção investir na célula a combustível (fuel cell) acionada por hidrogénio obtido do etanol.


A Great Wall já expandiu as suas operações para Ásia, Austrália, África do Sul, Tailândia e Rússia. A fábrica no Brasil faz parte de seu projecto global de expansão, atingindo uma das mais importantes regiões do mundo. Produzir no Brasil abre excelentes perspectivas de exportação da GWM para toda a América Latina, principalmente para os países do Mercosul e para o México, com quem o Brasil tem um tratado bilateral de comércio.


No recente Salão Automóvel de Chengdu, a GWM apresentou a pick-up Shanhai Poer, que tem a tecnologia prometida para produção na fábrica de Iracemápolis (SP), por ser híbrida. 


O novo Haval H6 acabou de ser lançado pela GWM na China e é o primeiro carro do fabricante a ser lançado no Brasil. Deve chegar nas versões híbrida e híbrida plug-in. Inicialmente, o veículo será importado da China, mas a produção na fábrica brasileira vai já começar em 2023.