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Chá do Gurué: Produto de excelência de Moçambique com potencial inexplorado
Tempo de liberação:2022-11-01
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O chá do Gurué, com uma longa tradição  na província moçambicana da Zambézia, tem um enorme potencial por explorar, segundo diferentes responsáveis na sua produção e consumo. De reduzida produção, este produto natural de alta qualidade é ainda difícil de encontrar em muitos mercados de grande consumo de chá em todo o mundo, incluindo na China.


É na província da Zambézia que está a maior parte das empresas que se dedicam ao cultivo e processamento do chá. Dados da Direcção Provincial da Indústria e Comércio da Zambézia, indicam que o Chá Magoma, com 15 anos de operação, conta já com uma produção de 13.400 toneladas por época, exportando para a Alemanha, China, Rússia, Dubai e Índia. Localizado no distrito do Gurué, o Chá Magoma é produzido sem aditivos químicos e fertilizantes. A empresa emprega um total de 50 funcionários todos contratados localmente.


O académico e investigador Carlos Muianga, do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) de Moçambique afirma que a produção do chá em Moçambique teve o seu início em 1914 na província da Zambézia, mais concretamente no distrito de Milange, expandindo-se nas duas décadas seguintes para outros distritos da alta Zambézia, nomeadamente Gurué, Lugela e Ile. E foi no distrito de Gurué onde a produção do chá mais se notabilizou “e assim continua actualmente, apesar das dificuldades que o sector tem enfrentado nos últimos anos”, refere Muianga num artigo sobre esta indústria, publicado pelo Instituto de Estudos Sociais e Económicos.


Da prosperidade ao declínio

Desde a década de 1940 que a agro-indústria do chá no Gurué domina a economia da Alta Zambézia, dados os montantes de investimento, a escala e valor da produção, assim como o emprego. Muianga adianta que o chá, além de principal empregador, era uma das cinco principais culturas de exportação (cerca de 4%), depois do caju (23%), algodão (21%), açúcar (11%) e copra (6%), e uma das principais fontes de divisas para o país. 


Em 1980, a produção do chá ocupava uma área de quase 16 mil hectares, produzindo cerca de 20 mil toneladas de chá processado.


“Actualmente, os níveis de investimento foram drasticamente reduzidos, a qualidade do chá produzido também baixou e o número de postos de trabalho está aquém do que se registou no passado colonial e logo após a independência”, refere Muianga.


Dados da Associação dos Produtores de Chá de Moçambique citados pelo investigador indicam que em 2012 a produção de chá em Moçambique era de cerca de 10 por cento do que era produzido nos momentos de pico, no período de pleno funcionamento das empresas chazeiras.


Com a independência de Moçambique em 1975, o Estado moçambicano interveio nas empresas abandonadas e, em 1978, criou a Empresa Moçambicana de Chá (Emocha). A Emocha era uma empresa estatal que reunia 20 pequenas e médias plantações numa área total de cerca de 14  mil hectares distribuídos em quatro filiais, nomeadamente Gurué, Socone, Tacuane e Milange. Logo após a independência, a produção do chá no Gurué estava organizada em 12 unidades de produção (UP), que surgiram das antigas empresas coloniais, segundo Muianga. Actualmente, apenas quatro empresas chazeiras estão 


em funcionamento na Zambézia, três no Gurué (Chazeiras de Moçambique, Sociedade de Desenvolvimento da Zambézia - SDZ e Chá Magoma) e uma no distrito de Ile (Chá Socone).


As quatro empresas operam algumas das 12 UP da antiga empresa estatal Emocha, numa área de cerca de 10 mil hectares e cultivam actualmente pouco mais de metade desta área. “Algumas das áreas tornaram-se florestas densas, outras foram queimadas e outras foram destruídas para dar lugar à produção de outras culturas (macadâmia, tomate, cebola, milho e batata).”


Duas UP localizadas no Gurué foram transformadas em fábrica de bebidas não-alcóolicas, nomeadamente água mineral e refrigerantes, pelo grupo Gulamo, o mesmo grupo proprietário da empresa Chazeiras de Moçambique.


Tradição que continua

Orlanda Barbosa, comerciante da área da restauração e promotora de produtos moçambicanos no estrangeiro, foi criada em Milange e “brincou nas plantações de chá” em Namule. Por isso, tem uma ligação profissional, mas também afectiva ao chá de Gurué.


“É um chá muito bom, totalmente natural, não tem nada de outros produtos. Também a embalagem é muito bonita”, disse “tia” Orlanda (como é mais conhecida) ao boletim do Fórum. “Todos os moçambicanos conhecem o chá do Gurué e quando o vêem ou provam ficam imediatamente alegres.”


“Tia” Orlanda, que já participou na Feira Internacional de Macau a promover produtos moçambicanos, serve chá do Gurué no restaurante que tem na cidade do Porto, Portugal. Mas mesmo isso é difícil. “Não há muita quantidade e é complicado vir de Moçambique. Tenho sorte de ter familiares que mo mandam”, adiantou ao boletim do Fórum.


A qualidade do chá do Gurué já foi experimentada na 24.ª edição do Festival da Lusofonia, em 2021, nas Casas-museu da Taipa. 


A Associação dos Amigos de Moçambique (AAM) não apenas serviu a bebida, como contou a história da produção de chá em Gurué.