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A China e o Brasil estreitam relações estratégicas com a visita do Presidente Lula da Silva
Tempo de liberação:2023-08-16
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A visita de Estado à China do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de 12 a 15 de Abril, foi histórica. 


Não apenas por marcar o regresso de Lula da Silva ao cenário internacional mas também para o maior país da América do Sul,  cujos laços económicos com a China são de enorme importância no sentido de fazer com que o Brasil seja um líder sul-americano.


 Desde o início da visita à China, em Xangai, até o final, em Pequim, Lula defendeu repetidamente que as nações em desenvolvimento do Sul devem ter um papel mais proeminente na actualidade internacional.


Na China e durante a posse de Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) dos BRICS, bloco comercial formado por Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul, o Presidente brasileiro Lula criticou o modelo tradicional de financiamento das instituições financeiras internacionais, que utiliza o Dólar Americano em detrimento de outras moedas e disse que  pela primeira vez, um banco de desenvolvimento com alcance global foi estabelecido sem a participação de países desenvolvidos e com a possibilidade de financiar projectos em moeda local.


Ainda em Xangai, o Presidente Lula da Silva visitou o centro de pesquisa e desenvolvimento da gigante de tecnologia e comunicações Huawei, que opera no Brasil há 25 anos. O Presidente reuniu-se também com o CEO da fabricante chinesa BYD, produtora de autocarros eléctricos que iniciou negociações para o lançamento de uma fábrica no estado brasileiro da Bahia.


Após visitas a outras empresas chinesas, Lula da Silva seguiu para Pequim onde se reuniu com o Presidente Xi Jinping. 


Durante a visita, a China e o Brasil assinaram uma Declaração Conjunta sobre o aprofundamento da parceria estratégica abrangente, 30 anos após seu estabelecimento. A Declaração Conjunta define aspectos da sua cooperação bilateral, nomeadamente nos campos digital e tecnológico, bem como no contexto da mudança climática defendendo que essa cooperação levará a uma coordenação mais eficiente de formatos multilaterais na ONU, no G20 e no BRICS.


Os dois Presidentes assinaram 15 acordos comerciais e de parceria que abrangem áreas como cooperação espacial, pesquisa e inovação, economia digital, combate à fome, intercâmbio de conteúdos de comunicação entre os dois países e facilitação do comércio.


Foram também firmados outros acordos sobre a certificação de produtos de origem animal e regras sanitárias especiais, para as arcas congeladoras provenientes de empresas brasileiras que exportam carne para a China. 


O Brasil é o maior fornecedor de carne bovina para a China, sendo 60% da produção da carne brasileira  vendida para a China.


Além disso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) e o Banco de Desenvolvimento da China (CDB), os bancos de desenvolvimento dos dois países, firmaram um acordo que aponta para investimentos no Brasil na ordem dos US$ 1,3 mil milhões.


Segundo o BNDES, os recursos poderão ser destinados a sectores como saneamento, manufactura e alta tecnologia, além de contribuirem para fortalecer o comércio bilateral entre Brasil e China.


Essa foi a terceira visita do Presidente Lula da Silva à China, sendo a primeira durante o mandato do Presidente Xi Jinping. 


Durante a visita, o Presidente Xi Jinping manteve conversações com o Presidente Lula, enquanto o Primeiro-Ministro chinês, Li Qiang, e Zhao Leji, como Presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, tiveram encontros individuais com o líder brasileiro.


Como sinal de alinhamento diplomático entre Pequim e Brasília em assuntos internacionais, as negociações dos Presidentes Lula e Xi incidiram no conflito na Ucrânia, na medida em que ambos os líderes concordaram com a necessidade de um acordo negociado, segundo a emissora estatal chinesa CCTV. 


Durante a visita, os dois Presidentes realizaram também discussões profundas sobre questões internacionais e regionais, tal como a governança global, alterações climáticas e compromissos em cooperação global.


Este ano marca o 30º aniversário do estabelecimento da Parceria Estratégica entre a China e o Brasil, e no próximo ano marcará o 50º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países. Nos encontros bilaterais o Presidente Xi deixou claro a importância que China dá à relação com o maior país lusófono.


“Como parceiros estratégicos abrangentes, a China e o Brasil compartilham amplos interesses comuns”, disse Xi, de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China. “A China... vê o relacionamento como uma importante prioridade na sua agenda diplomática”, acrescentou.


O Ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad, disse em Pequim que os dois países preparam-se agora para dar um novo impulso nas relações económicas nomeadamente trazendo para o Brasil novos investimentos directos da China. 


A China ultrapassou os EUA como o maior mercado de exportação do Brasil em 2009, e anualmente adquire enormes quantidades de soja, carne bovina, minério de ferro, aves, celulose, cana-de-açúcar, algodão e petróleo bruto. 


O saldo da balança comercial entre os dois países em 2022 foi de US$ 150 mil milhões o que representa um aumento de cerca de 40 por cento em relação a 2001.


Desde 2009 que a China é o principal parceiro comercial do Brasil absorvendo cerca de 27 por cento das suas exportações.


O Brasil é actualmente o maior receptor de investimentos chineses na América Latina, segundo estatísticas oficiais chinesas.


Um estudo do Brasil China Business Council mostra que o valor anual dos investimentos chineses confirmados em 2021, foi de US$ 5,9 mil milhões.


Os investimentos abrangem sectores como a agricultura, produção de electricidade, tecnologias de informação, finanças, manufactura, incluindo diferentes produtos como máquinas e papel, além de extração de petróleo e gás e captação de água. 


Jaime Spitzcovsky, ex-correspondente em Pequim e colaborador do principal jornal do Brasil, Folha de S. Paulo considera que “a visita do Presidente Lula à China, lança luz sobre aspectos importantes do actual momento da diplomacia brasileira. Em primeiro lugar, a procura de investimentos e expansão comercial, é fundamental para um eventual impulso da economia brasileira, após uma procura de um maior protagonismo no cenário internacional, em contraste com a administração anterior.


Para o Embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, a visita “foi um sucesso retumbante, com resultados frutíferos e implicações significativas”. “Esta visita criou importantes avanços a longo prazo na parceria estratégica abrangente entre China e Brasil”, segundo o Embaixador em artigo publicado pela CGTN. 


“A visita elevou ainda mais a confiança estratégica mútua (...) os líderes de ambos os países traçaram a direcção e delinearam um plano para avançar nas relações China-Brasil sob o novo contexto histórico”, disse o Embaixador chinês.


“Juntos, China e Brasil avançarão no processo histórico de modernização dos países em desenvolvimento, garantindo que as relações China-Brasil continuem a servir de modelo para a cooperação Sul-Sul na nova era”.


Presidente Lula da Silva visita Portugal após a China


O Presidente Lula da Silva esteve em Portugal após sua visita à China, de 21 a 25 de Abril, na sua primeira viagem oficial à Europa desde que assumiu a Presidência. 


O líder brasileiro foi recebido com honras militares na Praça do Império antes de depositar uma coroa de flores no túmulo de Luís de Camões, acompanhado pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. 


Os dois países mantêm estreitos laços culturais, linguísticos e históricos, com uma estimativa de cerca de 300.000 brasileiros a residirem em Portugal.


Após a Cimeira Portugal - Brasil no CCB (Centro Cultural de Belém), realizada em Lisboa, o Primeiro-Ministro português, António Costa, saudou a “nova vontade” do Brasil, com o Presidente Lula, de participar na CPLP e nas relações bilaterais.


O Presidente brasileiro indicou querer que a África seja a sua próxima deslocação na sua cruzada para que o Brasil retome o papel de liderança global no Sul. Angola e Moçambique estão no topo da lista de prioridades, juntamente com a África do Sul do BRICS. Os dois Países de Língua Portuguesa irão receber a visita de Lula da Silva nos próximos meses.


A China pretende assumir o papel de principal alternativa ao Ocidente na África, superando as nações ocidentais que tradicionalmente dominam o comércio e o investimento com o continente.


Durante o seu primeiro mandato com Lula da Silva como Presidente “o Brasil começou a investir na actualização de suas parcerias económicas e diplomáticas no Atlântico Sul” e “ao assumir a liderança na criação de novas e fortes relações Sul-Sul, o Brasil e África podem abrir uma porta para um futuro melhor para ambos”.