Grupos chineses de logística e infra-estruturas estão a posicionar-se para desempenhar um papel central na reactivação do Corredor do Lobito no centro de Angola, um projecto estratégico do Governo angolano que visa potenciar a integração regional.
Depois da concessão para a gestão e operação do Terminal Multiusos de Contentores e Carga Geral do Porto do Lobito, aguarda-se o resultado do concurso para a gestão do Corredor do Lobito.
A China International Trust Investment Corporation (CITIC) e o Shandong Port Group (SPG) foram anunciados em Janeiro como os vencedores do concurso público para a gestão e operação do Terminal Multiusos de Contentores e Carga Geral do Porto do Lobito. A concessão, por um período de 20 anos, segue-se a um concurso público onde a oferta chinesa ultrapassou outra do grupo filipino ICTSI, segundo o relatório de avaliação das propostas finais. O grupo ICTSI já tinha perdido o concurso para a gestão do terminal do Porto de Luanda, que foi para a DP World, do Dubai.
O consórcio CITIC/SPG propôs pagar 100 milhões de dólares americanos na data de assinatura do contrato de concessão, prevendo um montante máximo de 2,78 milhões de toneladas de carga por ano, além de aumentar a capacidade de movimentação de contentores para 100 mil TEU (unidade equivalente a contentores de 20 pés) por ano até o final da concessão. O consórcio chinês também investirá 8,3 milhões de dólares americanos em formação ao longo de 10 anos e 33,9 milhões de dólares americanos na incorporação de serviços e produtos angolanos.
O relatório final indica que os investimentos propostos a realizar após o terceiro ano da concessão estão condicionados à entrada em funcionamento do Corredor do Lobito, que, caso não se concretize, compromete
o equilíbrio financeiro da proposta apresentada.
Informação publicada na página do governo angolano indica pretender-se maximizar o potencial das infra-estruturas ferroviárias do Corredor do Lobito, dinamizar as exportações e os investimentos indirectos em plataformas multimodais, terminais e outras infra-estruturas ao longo da linha, para promover a valorização económica, social e cultural e o desenvolvimento das comunidades locais.
A operação do Corredor do Lobito envolve investimentos adicionais ao longo da linha ferroviária Lobito/Benguela/Luau, incluindo a integração com a linha de caminho-de-ferro do outro lado da fronteira na República Democrática do Congo e a construção de um ramal para a Zâmbia. O governo angolano sublinha que foram recentemente aplicados cerca de 1,9 mil milhões de dólares americanos na reconstrução do caminho-de-ferro e da ligação com a República Democrática do Congo, cujos custos podem agora ter oportunidade de ser recuperados.
Chineses na corrida ao Corredor do Lobito
A privatização do Porto do Lobito e dos Caminho de Ferro de Benguela faz parte de um plano mais amplo do governo angolano para diversificar a economia do país, com a ajuda de mais investimento privado. A economia do país continua a ser fortemente dependente das exportações de petróleo, que tem como principal cliente a China.
O Corredor do Lobito é formado pelo porto da cidade e pela linha férrea de Benguela. As duas estruturas estendem-se por mais de 1300 quilómetros.
O percurso é a rota de exportação mais rápida para o cobre, cobalto e outros minérios, para países como a Zâmbia ou a República Democrática do Congo.
No concurso para a gestão e manutenção do Corredor do Lobito estão dois consórcios: um constituído pela CITIC, Sinotrans e CR20 e outro pela Trafigura, Mota-Engil e Vectoris. O grupo português Mota-Engil é parcialmente detido pela chinesa CCCC. O acto público de abertura das propostas do concurso ocorreu a 25 de Janeiro de 2022.
Dando início a uma série de visitas técnicas para conhecer o estado actual de funcionamento das infra-estruturas, os representantes das empresas visitaram as oficinas-gerais do Caminho de Ferro de Benguela (CFB), bem como o Terminal Mineiro do Porto do Lobito.
É aguardado para breve o resultado do concurso internacional para a concessão, gestão partilhada, manutenção das infra-estruturas ferroviárias, transporte de mercadorias e serviços de apoio logístico para o Corredor do Lobito. O concurso decorre desde Setembro de 2021.
O governo quer criar uma empresa de capital privado, uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), a ser controlada por operadores privados ou por uma única entidade com investimento estatal minoritário.
A SPE será responsável pela operação e manutenção da infra-estrutura ferroviária Lobito/Luau, com possibilidade de construção de um ramal para a Zâmbia; pelo serviço de transporte ferroviário de mercadorias na linha Lobito/Luau; pela construção, operação e manutenção de dois terminais de trânsito de mercadorias para apoio ao serviço ferroviário de transporte de mercadorias na linha Lobito/Luau, um deles no Lobito e outro no Luau; gestão do centro de formação na província do Huambo e manutenção e exploração das oficinas ferroviárias.
A concessão terá um prazo de 30 anos, podendo ir até um máximo de 50 anos, nas condições definidas nas peças do concurso, período durante o qual o concessionário vai assumir o transporte de mercadorias, com destaque para minérios e combustíveis, enquanto o serviço público de transporte de passageiros e de pequena carga permanecerá sob gestão do Caminho-de-Ferro de Benguela.
A reactivação do Corredor do Lobito visa também potenciar a integração regional, tendo em conta a possibilidade de interligar os oceanos Atlântico e Índico com a ligação ferroviária ao porto de Dar-es-Salaam, na Tanzânia.