O Secretário-Geral do Fórum de Macau, Dr. Ji Xianzheng disse na abertura da exposição “Policromias Lusófonas”, integrada na 14ª. Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa que ela representa um verdadeiro sarau cultural.
O Secretário-Geral Ji Xianzheng salientou que a exposição mostra “A arte jovem e forte vinda de Angola na estética retratista de Don Sebas Cassule que se casa às lindíssimas experimentações virtuais do artista brasileiro Luciano Dremher. As telas luminosas com que Leomar nos faz viajar pelas ínsulas de Cabo Verde ligam-se primorosamente às fotografias oceânicas do timorense Jafet Potenzo Lopes e ainda mais à pintura em labirinto que de São Tomé e Príncipe nos traz o pincel multiforme de Olavo Amado. As sinuosas antropomorfias da pintura do moçambicano Walter Zandamela sugerem uma dialogia maravilhada com o hiper-realismo quase biológico vindo da Guiné-Bissau na arte maior de Lemos Djata. De Portugal navegou para nosso agasalho visual a pintura escultórica única de Maria Leal da Costa que logo se envolve com as telas em que o grande pintor de Macau Lio Man Cheong nos ensina essa imagética do encontro de continentes e culturas com que se tece a plataforma da Região Administrativa Especial de Macau”.
Don Sebas Cassule
Angola
Os elementos expressivos da composição da obra Lupa são: uma pintura pop art expressiva do rosto de uma mulher mucubal com lenço e tranças típicas, sendo a figura principal, ocupa o centro e está no primeiro plano, assim como o instrumento musical kora, comumente usado na região central do continente africano, que contrastam com um fundo formado com tinta acrílica em planos de cor que se complementam sobre suporte em tela de algodão. O uso de linhas e símbolos associados a música, caracterizam a linguagem discursiva desta obra.
Os elementos expressivos da composição da obra Voos são: uma pintura pop art expressiva do rosto da mulher himba, com tranças típicas da província do Kunene, sendo a figura principal, ocupa o centro e está no primeiro plano, assim como uma rosa de porcelana que contrasta com um fundo formado com tinta acrílica em planos de cor que se complementam sobre suporte em tela de algodão. As combinações de cores simbolizam robustez. O uso de linhas e símbolos associados a música, caracterizam a linguagem discursiva desta obra.
Luciano Dremher
Brasil
Luciano utiliza cores, imagens psicadélicas e surrealistas saturadas, objectos e desenhos, frequentemente unindo-os à cultura pop (especialmente aquelas constantemente apropriados pelas massas), comunicando uma mensagem subjacente de confusão, excitação, ansiedade, absurdo e espontaneidade.
A apropriação da arte e a iconografia podem ser ironicamente criticadas como comodismo cultural, trabalho doméstico ou anomia generalizada. Mas para Luciano isto pode ser o total absurdo, uma celebração, uma piada ou divertimento puro.
As suas obras são uma expressão da sua vida, particularmente das suas neuroses obsessivo-compulsivas.
Leomar Leontina Ribeiro
Cabo Verde
Batuku é uma das suas fontes de inspiração por representar uma das expressões culturais mais antigas de Cabo Verde executada por mulheres.
O Batuku veio de Cabo Verde com a escravatura e era uma das formas de comunicar utilizada pelas escravas, que depois com o estado de Cabo Verde livre e independente passou a ocupar os mais diversos palcos e representa actualmente uma das maiores identidades culturais caboverdeanas. E porque o Batuku é a essência mais genuína, sensual e bela da dança e da música, quis através do seu olhar artístico e do seu pincel, explorar em cores quentes, com luz e movimento, para transmitir ao público a emoção e sentimento que este movimento artístico caboverdeano provoca, e que nos permite vivenciar e fazer parte de momentos nunca antes vividos.
O Batuku é um modo de vida.
Pintar a recôndita praia de S. Pedro em S.Vicente, em Dançar com as Tartarugas é, para a artista, mostrar e divulgar uma experiência única , onde é possivel dançar e nadar ao lado das tartarugas. Este trabalho mostra a beleza dos mares de Cabo Verde e a necessidade de preservação desta espécie em vias de extinção, tal como a necessidade de proteger o ecossistema marinho.
Lemos Djata
Guiné-Bissau
As obras escolhidas apresentadas na exposição são as mais recentes do artista e aportam a pura simplicidade e a mestria do mesmo. Elas foram concebidas num momento de compreensão e valorização da família, aquando do regresso do artista de Londres para o seu país de origem (Guiné-Bissau). O afecto muito profundo pela família faz com que Lemos busque a água para simbolizar a liberdade, por intermédio de óleo, dando especial trato ao paneamento, um claro-escuro mais harmonizado e uma água muito viva.
Lio Man Cheong
Macau
Cais Antigo - Um cais abandonado, uma área de repouso que as garças muitas vezes sobrevoam, vendo para o panorama dos dois lados do porto interior.
O Velho e o Gato - Há décadas que vivem à vontade no meio da paz das colinas e da igreja.
Walter Zandamela
Moçambique
Nos seus desenhos líricos, abstratos e figurativos, Walter Zand traduz quase à letra as suas vivências e inquietações sobre o quotidiano.
Durante o processo de trabalho Walter Zand impõem-se como se já ali estivesse antes de começar a desenhar. A sua maneira de trabalhar é sempre intuitiva, sem ideia ou plano prévio. É por isso que parece que o trabalho nasce das mãos por si só.
Nas suas criações imagéticas de desenho o artista trabalha com uma vasta escala de técnicas mistas tendo como base fundamental a linha a carvão. Os materiais com que se exprime são o carvão sépia, misturado, por exemplo, com corante sobre papel.
Na séria apresentada não se esquece das suas fontes de inspiração mais importantes que são as pessoas e a natureza. A paisagem fascina-o com o jogo de luz e escuridão e as pessoas pelo jogo entre repulsa e atracção.
Maria Leal da Costa
Portugal
As obras trazidas a esta exposição pela escultora Maria Leal da Costa remetem-nos para a relação de longa data de Portugal com o mar.
O mar enquanto espaço geográfico que, in illo tempore, intrépidos navegadores trataram de desbravar, abrindo rotas de navegação, avizinhando culturas e impulsionando um primeiro grande movimento de globalização.
Mas também, em paralelo, o mar como entidade poética e espiritual, que ressoa nos versos de Camões ou de Pessanha, de Pessoa ou de Sophia, impregnando na sua diversificada simbologia o imaginário coletivo português.
Na proposta que a artista nos apresenta, convocam-se elementos reconhecíveis desse imaginário – as caravelas, os oceanos, o orbe terrestre –, indesligáveis da aventura marítima que um dia nos impeliu além deste lugar “onde a terra se acaba e o mar começa”, num ensejo de abraçar o imenso e lograr o mergulho emocional numa universalidade palpitante.
Olavo Amado
São Tomé e Príncipe
Os trabalhos representados são uma abordagem ao quotidiano das mulheres de São Tomé e Príncipe, que se inserem num conjunto de trabalhos seus, que denomina “Mulheres do Leve-Leve”.
“As Mulheres do Leve-Leve” são um tributo às mulheres de São Tomé e Príncipe, que em grande maioria são palaiés (vendedoras informais), mas também são mulheres que nas antigas roças de cacau e café trabalham arduamente com força e determinação para ultrapassar os mil e um obstáculos pelos quais são postas à prova.
Por estas razão considera-as verdadeiras heroínas, assim as representando.
Jafet Potenzo Lopes
Timor-Leste
Estas imagens fazem parte de um esforço para salvaguardar a conservação documental, da cultura, pessoas e natureza de Timor-Leste, recorrendo a narrativas visuais e contos.
Retratam qualidades humanas como o amor e a paixão, a esperança e a paciência, através da representação da vida cultural das pessoas e da linha que as une à Mãe Natureza, que está na base do espírito da herança cultural, desde os nossos ancestrais até aos dias de hoje.
As três imagens selecionadas são uma representação da incrível biodiversidade terrestre e marinha que se pode encontrar em Timor-Leste. A colheita de mel, a produção de sal e o forrageamento do mar, fazem parte do conhecimento e da sabedoria perpetuados de geração em geração. Estas imagens dão uma visão cultural e histórica da natureza, da terra, do mar, de um dos lugares mais produtivos do planeta que sustenta a vida das pessoas e dos ecossistemas que continuam a prosperar, devido ao equilíbrio e simbiose da convivência conseguida através da cultura e das pessoas.