A realização da “928 Challenge” de 2022 foi lançada oficialmente em Abril deste ano. O boletim do Fórum Macau entrevistou, José Alves, Director da Faculdade de Gestão da Universidade Cidade de Macau e
co-fundador da competição, para saber mais pormenores do evento e os resultados que os organizadores esperam alcançar.
1. Qual o objectivo que presidiu ao lançamento do Challenge 928?
A visão para o Challenge 928 é ser o principal ecossistema de empreendedorismo internacional centrado na China e Países de Língua Portuguesa. Queremos que seja um espaço de diversidade, experimentação e negócios com impacto sustentável. Por isso, decidimos alinhar o Challenge 928 com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Na primeira edição do 928, verificámos que a grande maioria dos 89 projectos apresentados tinha uma componente de sustentabilidade bastante significativa. Dezasseis equipas foram seleccionadas para a final e todas propuseram soluções para problemas de sustentabilidade importantes, como por exemplo segurança alimentar, recursos energéticos limitados e serviços de saúde precários.
2. Os resultados foram positivos?
A primeira edição, realizada em 2021, excedeu todas as nossas expectativas. No início pensámos que teríamos cerca de uma centena de participantes e apontámos para vinte equipas. Contudo, acabámos por ter quase 800 participantes, representando 153 equipas e 51 universidades de todos os países participantes. Foi uma adesão impressionante atendendo a que foi a primeira vez que o evento se realizou e com os recursos limitados que temos conseguimos atrair equipas de todos os países. Este ponto é muito significativo, pois se alguns países, como Portugal, já têm ecossistemas de empreendedorismo desenvolvidos, há outros países como por exemplo Timor-Leste que estão ainda numa fase de concepção do seu ecossistema. O mais interessante é que foram precisamente os países com economias emergentes que mostraram maior interesse. Isto sugere-nos que a estratégia da plataforma Macau deve dar mais atenção aos países mais pequenos e com necessidades mais prementes. É um ponto que vamos acompanhar com mais cuidado na edição de 2022, a segunda, do evento.
3. Pode recordar os vencedores da competição de 2021?
A equipa vencedora em 2021 foi uma equipa da Universidade do Porto que apresentou um projecto para aquicultura sustentável com desenvolvimento de vacinas probióticas para peixes de viveiro. O projecto assenta em resultados de investigação científica sobre a aquicultura, que é o sector da economia do mar com maior taxa de crescimento e responsável por quase metade da produção mundial de peixe. A aquicultura perde anualmente cerca de 6 mil milhões de dólares (USD) devido a doenças dos peixes e ainda não existe uma solução para este problema. A equipa também argumentou que a China é responsável por metade da produção de aquicultura no mundo. A proposta apresentada abrange a criação de parcerias com instituições da China, Brasil e Portugal. Trata-se de um projecto com enorme potencial e que deve merecer mais interesse em Macau. Isto exige atrair quadros para desenvolver instituições e assumir um papel de liderança nesta região. Se isto não acontecer rapidamente, é muito possível que o projecto entre directamente na República Popular da China sem passar por Macau.
4. Para o Challenge 928 quais são as áreas principais de participação dos interessados?
A competição vai ter este ano duas categorias distintas, uma para as universidades e outra para novas empresas (startups). Isto significa que vão aparecer propostas de negócio em fase embrionária e outras em fase mais avançada. Esperamos assim criar mais valor para a plataforma Macau e atrair empreendedores com mais experiência. Em termos de sectores de negócio, a competição vai ter seis sectores prioritários: agroalimentar, economia azul, energia, fintech, saúde e turismo. Estes sectores foram escolhidos em consulta com os nossos colaboradores e parceiros em vários países.
5. Em 2021 o Challenge 928 teve uma participação de 780 estudantes de 51 universidades. Qual é a previsão para a edição de 2022?
O objectivo para este ano é o de duplicar o número de participantes para 1600. Para atingir esta meta, estamos a expandir a nossa rede de contactos e parceiros em todos os países e a trabalhar com eles com mais antecedência. Seria fantástico para o evento e para Macau que as equipas finalistas pudessem deslocar-se a Macau, mas de momento penso que não será possível.
6. Na sua opinião qual a importância desta iniciativa para Macau?
Do ponto de vista estratégico esta competição é o evento mais importante em Macau para o desenvolvimento de empreendedorismo na plataforma Macau. Além disso, o Challenge 928 pode contribuir para a diversificação de Macau. Neste aspecto é fundamental lembramo-nos que diversificação exige diversidade. Quando normalmente se fala sobre a diversificação económica de Macau existe ainda a tendência para o debate ficar a um nível conceptual, sem discutirmos as condições para que isso aconteça. A diversificação tem necessariamente de acontecer com pessoas que têm ideias diferentes e competências que não existem ou estão pouco desenvolvidas. Isto é precisamente o espirito do empreendedorismo. O Challenge 928 é um mecanismo que traz a Macau pessoas com grande diversidade de ideias e acesso a novos mercados. Macau tem poucos mecanismos para potenciar a plataforma Macau.O Challenge 928 consegue atrair uma grande diversidade de quadros e criar sinergias a uma escala que outras iniciativas não conseguem.
7. Pensa que este tipo de competição internacionaliza Macau e torna Macau mais conhecido não só no continente mas também junto dos Países de Língua Portuguesa?
Sem dúvida, o Challenge 928 é divulgado nas universidades e meios de comunicação em Países de Língua Portuguesa, mas este ano também aparece nos ecossistemas de empreendedorismo destes países. Por exemplo, em Angola, o Challenge 928 está nomeado pela Angola Innovation Summit como um dos três finalistas do prémio para ecossistema de empreendedorismo e inovação nos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Estamos cada vez mais surpreendidos com o interesse dos Países de Língua Portuguesa pelo Challenge 928. Penso que isso se deve às expectativas positivas que têm em relação à China. No interior da China, também observo um grande interesse dos nossos parceiros, sejam eles universidades ou outras instituições, para conhecerem mercados internacionais ainda por explorar. Este interesse recíproco confirma o potencial da plataforma Macau e do Challenge 928. Esta iniciativa proporciona a diversidade que é necessário para a plataforma Macau.