Países Participantes
Chefes de Estado elevam relação estratégica Brasil-China a “Novo Patamar”
Tempo de liberação:2023-02-21
  • Share To:

Em muito se deve a Luiz Inácio Lula da Silva, que tomou posse a 1 de Janeiro de 2023 como novo Presidente do Brasil, a elevação das relações sino-brasileiras ao actual nível de parceria estratégica e a sua componente económica em constante fortalecimento. O regresso ao poder de Lula está a criar elevadas expectativas em ambos os países quanto à elevação das relações bilaterais destas duas potências emergentes a “um novo patamar”. 


O Vice-Presidente da China, Wang Qishan esteve presente na posse de Lula da Silva, a quem entregou um convite endereçado pelo Presidente Xi Jinping para que o Presidente do Brasil visite a China.


Numa mensagem de felicitações enviada ao homólogo brasileiro, por ocasião da posse, o Presidente chinês, Xi Jinping, sublinhou a “grande importância” da “parceria estratégica” entre os dois países. 


“Desde que China e Brasil estabeleceram relações diplomáticas há 48 anos, o relacionamento bilateral desenvolveu-se em profundidade”, disse Xi, na mensagem difundida pela agência noticiosa oficial Xinhua. O líder chinês apontou ainda que os laços entre os dois países “são um modelo” para as nações em desenvolvimento.


Xi destacou que a China e o Brasil são países em desenvolvimento com “influência global” e “importantes” mercados emergentes com “interesses comuns”.


Pequim atribui “grande importância ao desenvolvimento da cooperação estratégica” com Brasília, afirmou.


O Presidente chinês acrescentou que quer “levar a parceria entre China e Brasil para um patamar superior” e declarou estar “disposto a trabalhar” com o país sul-americano para “encontrar modelos de desenvolvimento que se encaixem nas condições de cada nação”.


Durante os primeiros dois mandatos de Lula, entre 2003 e 2011, a relação comercial e política entre Brasil e China intensificou-se, marcada, em particular, pela constituição do bloco de economias emergentes BRICS, que inclui ainda Rússia, Índia e África do Sul.


Os dois Chefes de Estado conhecem-se bem e estiveram reunidos várias vezes ao longo dos anos. 


Já a mensagem de felicitações que Xi Jinping enviou a Lula da Silva, logo após a sua eleição como Presidente do Brasil, revela elevadas expectativas quanto ao impacto da eleição de Lula para as relações bilaterais entre as partes.  


“Estou disposto a trabalhar com o Presidente eleito Lula, com uma perspectiva estratégica e de longo prazo, para em conjunto planear e elevar a um novo patamar a parceria estratégica abrangente entre China e Brasil, em benefício de ambos os países e seus povos”, salientou Xi.


Na mensagem o Chefe de Estado chinês destacou que a “amizade de longa data da China e do Brasil é propícia para manter a paz e a estabilidade regional e mundial e promover o desenvolvimento e a prosperidade comuns”.


Foi com o antigo Presidente brasileiro Ernesto Geisel que os dois países restabeleceram, em 1974, as relações diplomáticas. Em 1988, com José Sarney na Presidência brasileira, foram assinados acordos para a construção do satélite Sino-Brasileiro, que viria a ser lançado no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 1994, os Presidentes Itamar Franco e Jiang Zemin estabeleceram a Parceria Estratégica entre o Brasil e a China.  


É, no entanto, durante a governação de Lula, de 2003 a 2011, que o Brasil passa a tratar a China como um parceiro fundamental para ajudar a reestruturar a ordem internacional. Num dos principais momentos das relações entre as duas potências emergentes, em 2004, Lula liderou uma delegação de mais de 450 empresarios à China, lançando as bases de uma parceria que entrelaçou as duas economias. Lula fortaleceu o diálogo com Pequim durante o seu primeiro governo e, em 2009, ajudou a formar o BRICS, aliança de nações emergentes com a Índia, a Rússia e a África do Sul. Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil.  


De regresso à Presidência, Lula também deixou claro que a China será uma das suas prioridades. Em Dezembro, o Embaixador Mauro Vieira, Chefe da Diplomacia brasileira, avançou que, logo após a entrada em funções e nos três primeiros meses da sua Presidência, Lula visitará a China e também os dois principais parceiros no continente americano: a Argentina e os Estados Unidos da América.


Esta será a terceira visita de Lula à China, onde o Presidente brasileiro já esteve em 2004 e em 2014, respectivamente. Será também o segundo encontro com Xi, desde a sua visita ao Brasil em 2009, como Vice-Presidente. 


A vitória de Lula foi amplamente celebrada em Pequim. O diário estatal chinês Global Times destacou que foi “principalmente desde que Lula assumiu a presidência pela primeira vez em 2003”, que as relações China-Brasil, “principalmente as económicas e comerciais, evoluíram rapidamente”.


“Hoje, a complementaridade económica e comercial entre os dois países tem crescido de forma notável, tornando-se a base das actuais relações bilaterais. O aprofundamento das relações China-Brasil segue a tendência e tem uma forte força motriz interna. Isso não será facilmente alterado em breve ou por um único evento”, acrescentou o artigo.

A eleição de Lula coincide também com a tomada de posse de um novo Embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao. Em nota publicada em 9 de Dezembro do ano passado, para marcar o início do mandato, Zhu conta que passou quase metade de uma carreira diplomática de mais de 30 anos no Brasil, presenciando 

“a ascensão dessa potência emergente e também participando de momentos importantes da relação política 

sino-brasileira”.


“Tenho no coração uma profunda afinidade por esta terra vibrante e um grande respeito pelo seu povo caloroso e acolhedor”, acrescenta o diplomata. “China e Brasil são grandes países de relevância internacional. Ao longo de meio século desde o estabelecimento dos nossos laços diplomáticos, as relações bilaterais tornaram-se cada vez mais maduras e estáveis, com crescente influência global e estratégica”, afirma 

o diplomata. 


“A Parceria Estratégica Global entre nossos dois países completou dez anos, enquanto nosso relacionamento caminha para uma nova etapa de desenvolvimento com um futuro promissor”, afirma Zhu, que ocupou diversos cargos na Embaixada da China no Brasil entre 1996 e 2003. Regressou em 2009 como Ministro-Conselheiro, permanecendo até 2014.  


Imparável crescimento das relações económicas

  

As relações Brasil-China têm permanecido bastante estáveis ao longo dos anos. A Comissão de Coordenação e Cooperação de Alto Nível Sino-Brasileira (Cosban), tem vindo a ganhar peso, sendo um marco fundamental para o desenvolvimento das relações bilaterais. Inicialmente era o VicePrimeiro-Ministro que presidia do lado chinês, sendo hoje o Vice-Presidente. 


Não obstante a pandemia, o comércio China-Brasil tem batido sucessivos recordes. Em 2021, as trocas ascenderam a 164 mil milhões de dólares americanos. As exportações brasileiras para o mercado chinês cresceram vertiginosamente, atingindo o recorde histórico de 88 mil milhões de dólares americanos em 2021. As importações brasileiras provenientes da China também cresceram num valor de dois dígitos anuais. 


Tulio Cariello, Director de Conteúdo e Pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), afirmou que “a China ainda vê o Brasil principalmente do ponto de vista comercial e de investimentos”. “Para o futuro, acredito que não deve haver mudanças estruturais na relação, mas a intensificação do comércio em áreas específicas, como o agronegócio”, disse ao Boletim do Fórum. A sua confiança é compartilhada por muitos empresários brasileiros e chineses activos nos dois países.


O especialista do CEBC concordou que as duas economias são complementares: enquanto a China tem uma enorme procura por mercadorias (commodities) minerais, energéticas e agrícolas, o Brasil é altamente competitivo nessas áreas e é um dos poucos países do mundo com capacidade de produzir e exportar em grandes volumes. Do lado das importações, o Brasil compra muitos produtos industriais chineses com diferentes níveis de complexidade.


O Conselho Empresarial Brasil-China estimou que os investimentos chineses no país já ultrapassam os 70 mil milhões de dólares americanos, em áreas que vão da energia à indústria de transformação. O investimento de empresas chinesas no Brasil mais do que triplicou em 2021, voltando aos níveis de pré-pandemia da Covid e tornando o país o principal destino do capital chinês em 2021, segundo um novo estudo do CEBC. O valor investido pelas empresas chinesas aumentou 208%, chegando a 5,9 mil milhões, o que tornou o Brasil o maior destino de investimentos chineses no mundo.


O relatório “Investimentos Chineses no Brasil: 2021, Um Ano de Recuperação”, lançado no final de Agosto do ano passado, mostra que houve um recrudescimento do interesse pela área de tecnologia da informação, com 10 projectos que representam quase um terço do valor total de 2021, em investimentos generalizados no sector petrolífero, que totalizaram cerca de 

5 mil milhões de dólares americanos,  bem como os existentes projectos no sector eléctrico, especialmente com iniciativas das empresas gigantes China Three Gorges (CTG) e State Grid. Na área industrial, o investimento mais significativo foi a aquisição de uma fábrica da Mercedes-Benz em São Paulo pela Great Wall Motors, enquanto maior fabricante de veículos privados da China.


Entre 2007 e 2021, a China investiu 70,3 mil milhões de dólares americanos no Brasil, através de 202 empreendimentos, colocando o Brasil em quarto lugar entre os maiores receptores de investimentos chineses no mundo.