O documentário “Omi Nobu” (Homem Novo) do realizador cabo-verdiano Yuri Ceuninck foi premiado com o galardão de ouro na 28ª edição Festival Panafricano de Cinema e Televisão de Ouagadougou (Fespaco), decorrido no Burkina Faso.
Pela primeira vez, um filme cabo-verdiano entrou na competição oficial do FESPACO, considerado o maior festival de cinema e televisão de África, e conquistou um dos mais importantes prémios do certame, o “L’étalon dór” com o documentário “Omi Nobu” (Homem Novo).
O realizador considerou, ao ter conhecimento da atribuição do prémio, tratar-se de “um momento histórico para o cinema de Cabo Verde.
“Acaba de ganhar o prémio de melhor documentário de toda a África. Foi número um, não é segundo, nem terceiro. Na primeira participação de um filme no maior festival de cinema de África, o nosso filme ganha esse evento, que é como o Óscar de África”, salientou.
O documentário “Omi Nobu”, produzido pela Korikaxoru Films uma empresa cabo-verdiana sediada na Praia, conta a história de Quirino da Cruz, o último habitante da aldeia de Ribeira Funda, em São Nicolau.
Nos anos 80 em Cabo Verde, na ilha de São Nicolau, na Ribeira Funda, uma pequena aldeia situada no fundo de um vale rodeado por altas montanhas e um mar turbulento, os habitantes passam por uma série de acontecimentos trágicos. As suas superstições levam todos os locais a deixar a vila para fugir das forças do mal. Todos partem para se estabelecerem na vizinha Estância de Brás. Todos excepto um: “Quirino da Cruz, 76 anos”.
Durante quatro décadas, Quirino recusou a ajuda oferecida por amigos e autoridades locais para mudar para outro local.
Quirino sempre insistiu, com “orgulho” que a Ribeira Funda era “a terra do seu nascimento e o túmulo da sua morte”.
Sobrevivendo da pesca e da agricultura, passa os dias a contemplar o oceano e as “majestosas montanhas” que via de casa.
Os seus companheiros são um galo, alguns pardais, e um rádio portátil, a pilhas, para ouvir as notícias do mundo.
Quirino, é confrontado com um futuro incerto e com o peso do isolamento, da doença e da velhice e com a ideia crescente de que poderá ter que deixar a aldeia natal e mudar-se também para Estância de Brás.
Algum tempo após a conclusão das filmagens, ainda em 2022, Quirino viria a falecer, durante a pandemia da Covid-19.
De ascendência belga, Carlos Yuri Ceuninck nasceu em 1976, na ilha cabo-verdiana de Santo Antão. Estudou História da Arte e Línguas Estrangeiras na Bélgica, de onde foi para Oklahoma, nos Estados Unidos, estudar Inglês e Antropologia.
Depois de um workshop de cinema em Melbourne, Austrália, iniciou os estudos cinematográficos na EICTV (Escuela Internacional de Cine y Television) de Cuba, com especialização em documentário.
Vive em Hoeilaart, Bélgica, e tem trabalhado na direcção e produção de reportagens em Cabo Verde para a Telesur (rede de televisão multi-estatal para a América Latina), além de desenvolver vários projectos pessoais.
Dirigiu diversos curtas-metragens, como “Ouça e Mar, Sem Sabor, Toque ou Cheirar” (2005) e “Carne ou Não Carne, Essa é a Questão na Ilha de Um” (2004). Este último foi seleccionado para vários festivais internacionais de cinema.