A visita do Presidente da Guiné-Bissau à China, em Julho, coincidiu com o elevar da relação entre os dois países para o estatuto de “parceria estratégica”. Do lado das autoridades chinesas, ficou também o compromisso de apoiar novos projectos de infra-estruturas no país africano
O Presidente da Guiné-Bissau deslocou-se à China entre os dias 9 e 13 de Julho, numa visita de Estado cujos resultados, de acordo com Umaro Sissoco Embaló, superaram as expectativas. A iniciativa ficou marcada pelo elevar das relações entre as duas nações para o nível de “parceria estratégica”, com o lado chinês a comprometer-se com um aprofundar do apoio ao desenvolvimento da nação africana.
Num balanço da visita, o líder guineense enfatizou, em particular, a promessa do Presidente chinês, Xi Jinping, de aumentar o número de bolsas de estudo destinadas a jovens do país africano, sobretudo na área da engenharia, sector em que, sublinhou, a Guiné-Bissau carece de recursos humanos qualificados.
A visita de Julho foi a primeira à China de Umaro Sissoco Embaló enquanto Presidente da Guiné-Bissau (o dirigente regressou posteriormente a Pequim, em Setembro, para participar no Fórum de Cooperação China-África 2024). A deslocação de Julho teve como principal objectivo reforçar a cooperação bilateral nas áreas da agricultura, pescas e infra-estruturas.
Um dos pontos altos da agenda do Presidente da Guiné-Bissau em Pequim foi o encontro com o homólogo chinês, a 10 de Julho. No Palácio do Povo, Xi Jinping notou que os laços entre a China e a Guiné-Bissau se “aprofundaram” ao longo dos últimos anos, tendo a confiança política mútua sido "reforçada", as áreas de cooperação concreta alargadas e a coordenação internacional reforçada.
Segundo a agência noticiosa Xinhua, o líder chinês sublinhou que o seu país está disposto a fortalecer o intercâmbio com a Guiné-Bissau no âmbito das práticas de governação, tendo Xi Jinping enfatizado a vontade de expandir a cooperação em áreas como a agricultura, a indústria mineira, a construção de infra-estruturas e a economia azul, no contexto da construção conjunta de qualidade da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”. A China e a Guiné-Bissau assinaram, em 2021, um memorando de entendimento no âmbito da participação do país africano no projecto.
Por seu lado, durante o encontro com Xi Jinping, Umaro Sissoco Embaló assinalou que a China é, para a Guiné-Bissau, a principal prioridade no que toca às relações externas, sendo o parceiro internacional mais importante do país. As autoridades guineenses esperam, em particular, aprender com a experiência de desenvolvimento chinesa, reforçando a cooperação bilateral em sectores como o comércio, o investimento, as infra-estruturas e a exploração de recursos minerais.
Reforçar a cooperação
Da agricultura à formação, incluindo a saúde, foram várias as áreas em que a Guiné-Bissau assegurou o apoio renovado da China durante a visita de Estado de Umaro Sissoco Embaló ao país.
No encontro com o homólogo guineense, Xi Jinping acrescentou que a China dá as boas-vindas a produtos agrícolas guineenses de alta qualidade e encoraja as empresas chinesas a investirem no país africano, visando “ajudar a Guiné-Bissau a transformar o seu potencial” ao nível de recursos disponíveis em “impulso de desenvolvimento”.
Em 2023, as exportações chinesas para o país africano atingiram 62,7 milhões de dólares, segundo informação dos Serviços de Alfândega da China. Nos primeiros seis meses deste ano, o valor das trocas comerciais entre as duas nações atingiu 35,2 milhões de dólares, registando um aumento homólogo de 80,8 por cento, segundo os últimos dados oficiais. Actualmente, a relação comercial bilateral é maioritariamente dominada pelas compras guineenses à China.
Durante a visita de Estado de Umaro Sissoco Embaló, foi ainda sublinhado por Xi Jinping que as autoridades chinesas estão dispostas a continuar a fornecer apoio ao desenvolvimento doméstico do país africano. Nesse âmbito, Pequim vai manter o envio de peritos em produção de arroz para o território guineense, de forma a apoiar o país africano em matéria de segurança alimentar. Ao mesmo tempo, a China compromete-se também a dar continuidade ao envio de equipas médicas, de modo a auxiliar a Guiné-Bissau no campo da saúde pública.
Outra área da cooperação cuja importância foi relevada por ambos os lados foi o sector da educação. Xi Jinping apelou às duas partes para reforçarem o intercâmbio e a cooperação nos domínios educativo e de assuntos ligados à juventude, para “aproximar os corações dos dois povos”. O Presidente chinês assinalou que o seu país vai continuar a fornecer bolsas de estudo e oportunidades de formação à Guiné-Bissau, para ajudar no desenvolvimento de recursos humanos que possam contribuir para o futuro do país africano.
Mais investimento em infra‑estruturas
No âmbito do apoio chinês ao desenvolvimento da Guiné-Bissau, uma das principais áreas tem sido a da construção de infra-estruturas. Esse apoio pode ser visto um pouco por todo o país, seja por meio de financiamento de grandes projectos, seja através da construção, por parte de empresas chinesas, de obras estruturantes para o desenvolvimento da nação africana, como o palácio governamental, o edifício da Assembleia Nacional guineense e o estádio nacional.
Ainda antes de partir para a sua primeira visita de Estado à China, Umaro Sissoco Embaló havia já revelado que o lado chinês tinha expressado às autoridades guineenses apoio para a reabilitação de 300 quilómetros de estradas no país africano, bem como para a construção de um novo campus universitário, com capacidade para 12 mil estudantes. O lado chinês irá também financiar a construção de um centro de conferências, para ser utilizado a propósito da presidência rotativa da Guiné-Bissau da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a qual terá lugar em 2025.
Durante a visita à China, Umaro Sissoco Embaló reuniu-se também com o Primeiro-Ministro chinês. Segundo a agência Xinhua, Li Qiang afirmou que a China está disposta a trabalhar com a Guiné-Bissau para “consolidar e aprofundar a confiança política mútua, expandir a cooperação mutuamente benéfica, alcançar um melhor desenvolvimento comum e trazer benefícios adicionais para os dois povos”.
O governante chinês assinalou ainda o apoio à Guiné-Bissau “na exploração independente de um caminho de desenvolvimento adequado às condições nacionais” do país africano. O Primeiro-Ministro chinês sublinhou que Pequim apoia a Guiné-Bissau “na salvaguarda da sua soberania, segurança e interesses de desenvolvimento”.
Li Qiang apelou a que os dois países aproveitem plataformas como a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” , o Fórum de Cooperação China-África e o Fórum de Macau para aprofundar a cooperação nos sectores da agricultura, pesca e construção de infra-estruturas. O governante chinês reiterou também que o seu país está disposto a importar mais produtos agrícolas de elevada qualidade da Guiné-Bissau, além de providenciar incentivos às empresas chinesas para que expandam o investimento no país africano. Por seu lado, a China, acrescentou Li Qiang, espera que a Guiné-Bissau continue a fornecer conveniência e apoio ao investimento chinês no país africano.
Já Umaro Sissoco Embaló sublinhou, durante o encontro com o Primeiro-Ministro chinês, que a Guiné-Bissau aprecia o “valioso apoio de longo prazo” prestado pela China para o desenvolvimento económico e social do país africano. As autoridades guineenses estão dispostas “a reforçar ainda mais a cooperação prática com a China em vários domínios, como a economia, o comércio e a construção de infra-estruturas”, acrescentou.
No encontro com Li Qiang, o Presidente guineense afirmou também o respeito pelo princípio “Uma só China”. Umaro Sissoco Embaló assinalou ainda o apoio aos “principais conceitos e iniciativas globais” promovidas pela China, incluindo a construção de uma “comunidade com um futuro partilhado para a humanidade” e a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.
Na sua deslocação à China, além dos encontros de alto nível com representantes governamentais na capital chinesa, Umaro Sissoco Embaló visitou ainda a cidade universitária de Songjiang e o instituto de investigação do grupo tecnológico chinês Huawei em Xangai. A visita às instalações da tecnológica chinesa visou a discussão de oportunidades futuras envolvendo a Guiné-Bissau.