Quarenta anos depois de estabelecerem relações diplomáticas, em 1983, Angola e China são importantes parceiros comerciais e os investimentos em curso projectam a relação para o futuro. Os Presidentes dos dois países vêem no aniversário, celebrado este ano, uma oportunidade para aprofundar a confiança política entre os dois lados.
O Presidente da China, Xi Jinping, e o Presidente de Angola, João Lourenço, assinalaram em Janeiro o 40.º aniversário das relações diplomáticas, salientando as vantagens para o desenvolvimento económico e a partilha de valores e interesses. Segundo um comunicado então divulgado pelo Governo chinês, “Xi Jinping apontou na sua mensagem que desde o estabelecimento dos laços diplomáticos há 40 anos, China e Angola foram sempre sinceras e amigáveis, trabalharam juntas, entenderam e apoiaram-se mutuamente nas questões, envolvendo os seus interesses estratégicos e principais preocupações”.
As relações entre os dois países “estão num bom momento de desenvolvimento, e a cooperação bilateral em vários campos tem dado resultados frutuosos, trazendo benefícios tangíveis aos povos dos dois países”, acrescentou o líder chinês, no comunicado. O Presidente da China disse que “está pronto para trabalhar com João Lourenço e aproveitar as comemorações do 40.º aniversário para criar oportunidades de aprofundar a confiança política mútua, fortalecer a cooperação mutuamente benéfica, melhorar a amizade entre os povos e escrever um novo capítulo no desenvolvimento da robusta parceria estratégica entre os dois países”.
Em comunicado, o Presidente de Angola lembrou que o estabelecimento de laços bilaterais contribuiu para o desenvolvimento do seu país e a cooperação mutuamente benéfica em vários sectores garantiu grandes feitos. Angola, concluiu, quer fortalecer as relações amigáveis e de cooperação com a China, construir um futuro em que ambos ganhem e atingir progresso comum, prosperidade e desenvolvimento para assegurar mais benefícios para os cidadãos dos dois países.
Para assinalar o aniversário, o Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, visitou Luanda em Janeiro, incluindo Angola no seu roteiro africano. Qin cumpriu assim uma tradição de 33 anos, segundo a qual o chefe da diplomacia chinesa fez a sua primeira viagem do ano ao estrangeiro até África.
Durante a estada em Luanda, Qin Gang visitou o parque tecnológico da Huawei, uma gigantesca estrutura composta por centros de formação e inovação, que custou 60 milhões de dólares americanos e foi inaugurada no ano passado. O chefe da diplomacia chinesa reuniu-se com o Presidente João Lourenço e com o Ministro das Relações Exteriores angolano, Téte António.
O Ministério das Relações Exteriores angolano indicou que, no encontro em Luanda, Lourenço manifestou apreço pelo cuidado pessoal e apoio do Presidente Xi Jinping ao desenvolvimento das relações bilaterais. Referiu que Angola e China sempre gozaram de solidariedade e confiança mútua, com um bom dinamismo na cooperação, e que muitos grandes projectos históricos apoiados pela China, incluindo aeroportos, hidroeléctricas, estradas, vias férreas e portos, desempenham um papel indispensável na reconstrução de Angola no pós-guerra e no desenvolvimento económico
e social.
Téte António disse ainda que Angola espera aprofundar a cooperação com a China e acolher mais investimentos chineses em Angola.
Qin Gang, por seu turno, disse que a China “está pronta para fortalecer a coordenação entre os dois lados em assuntos multilaterais, defender conjuntamente o verdadeiro multilateralismo, salvaguardar os direitos e interesses legítimos dos países em desenvolvimento e trabalhar juntos para construir uma comunidade humana com um futuro compartilhado”, de acordo com o comunicado.
Relações económicas e comerciais continuam a expandir-se
Coincidindo com a visita de Qin Gang a Luanda, foi assinado um acordo de financiamento entre os dois governos, ao abrigo do qual a China vai emprestar 249 milhões de dólares americanos para financiar um projecto de banda larga em Angola.
O Secretário de Estado das Telecomunicações e Tecnologias de Informação angolano, Alé Fernandes, destacou a importância do acordo para o sector, salientando que vai permitir o reforço e expansão da rede de infra-estruturas do país.
“Estamos a falar da implementação de cerca de dois mil quilómetros de fibra óptica terrestre que vão permitir chegar a zonas ainda não alcançadas pelos serviços de telecomunicações (…). E temos ainda um segmento de micro-ondas que vai permitir reforçar as comunicações em Cabinda”, sublinhou.
A Ministra das Finanças angolana, Vera Daves, e o Embaixador da China em Angola, Gong Tao, foram os signatários deste acordo, que prevê a concessão do empréstimo pela China para o financiamento do projecto.
Gong Tao acrescentou que o instrumento agora rubricado se traduz na “abertura de novas portas e novos capítulos” nas relações entre Luanda e Pequim. “Estamos aqui a trabalhar em conjunto para servir a cooperação das nossas partes para um melhor bem-estar dos nossos dois povos”, disse o diplomata chinês.
Beneficiando de laços comerciais mais estreitos e de uma estrutura comercial complementar, o comércio entre os dois países atingiu 27,34 mil milhões de dólares em 2022, indicam os dados da Administração Geral das Alfândegas da China.
Petróleo bruto, minério de ferro, betume, madeira, produtos agrícolas e de madeira e minerais raros são as principais importações da China de Angola. Enquanto peças de vestuário, máquinas, veículos, material ferroviário, equipamentos de telecomunicações, peças industriais, eletrodomésticos, computadores e aço compõem a maior parte das exportações da China para o país africano.
Ao jornal China Daily, o Vice-Presidente da China International Contractors Association, Zhang Xiang, salientou que “a construção de infra-estruturas é um campo chave na cooperação. As empresas chinesas são contratadas para muitos projectos de infra-estruturas em Angola, incluindo construção de ferrovias, sistemas de irrigação e portos”.
Um projecto de abastecimento de água na província de Cabinda, construído pela sucursal angolana da China Railway 20th Bureau Group, foi concluído em Junho de 2022. O projecto compreende 74 pontos centralizados de abastecimento de água, abrange 24 mil famílias, ou 92% das comunidades residenciais da província, permitindo fornecer água 24 horas por dia, sete dias por semana, o que vai aliviar significativamente a escassez de abastecimento enfrentada por indústrias locais, escolas e transporte portuário.
A Guangxi Hydroelectric Construction Bureau, subsidiária do China Energy Engineering Group, ou Energy China, prevê expandir a presença em Angola nos próximos anos, especialmente nas áreas de energia e desenvolvimento de infra-estruturas de transporte. Ao fim de mais de dois anos de planeamento e construção, a empresa abriu uma estrada ao tráfego na província de Luanda, em 2022. Anteriormente, as condições do trânsito limitavam a exportação de produtos locais, travando o desenvolvimento da economia rural de Angola, afirmou à imprensa o Vice-Presidente da empresa sediada na região autónoma de Guangxi Zhuang, Li Cai.
O novo “Tech Park” da Huawei em Luanda, o terceiro aberto em África pela empresa chinesa, vai formar 10 mil Angolanos, e conta com centros de inovação e tecnologias avançadas, indicaram responsáveis. O Centro opera desde final de 2022 e já foi visitado pelo Presidente João Lourenço.
Wei Xiaoquan, investigador especializado em desenvolvimento económico regional na Universidade de Negócios Internacionais e Economia de Pequim, disse ao China Daily que as tecnologias e o investimento chinês vão ajudar Angola a acelerar a industrialização, modernizar as infra-estruturas e proporcionar mais oportunidades educativas e de formação à população.