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Potencial da Área da Grande Baía para os Países de Língua Portuguesa pode abrir enormes oportunidades de cooperação
Tempo de liberação:2022-11-01
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Os Países de Língua Portuguesa (PLP), constituídos por nove países (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), contavam em 2021 com uma população de cerca de 296 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) em preços correntes de USD 2 biliões (trillions em inglês), segundo dados de 2022 do Banco Mundial. 

A Área da Grande Baía (AGB), constituída por nove cidades (Dongguan, Foshan, Guangzhou, Huizhou, Jiangmen, Shenzhen, Zhaoqing, Zhongshan e Zhuhai) e duas regiões administrativas especiais (Hong Kong e Macau) no Delta do Rio das Pérolas, contava em 2019 com cerca de 70 milhões de habitantes e um PIB a preços correntes de USD 1.7 biliões. A AGB é ainda indicada no 13.º Plano Quinquenal de Desenvolvimento da República Popular da China como um motor fundamental do desenvolvimento tecnológico, das reformas pró-mercado e facilitador da iniciativa “Uma Faixa e Uma Rota.”

Com uma dimensão populacional e um peso económico tão significativo, quais os constrangimentos que levam a que o potencial das relações económicas, comerciais, financeiras e de investimento entre ambos os blocos não se tenha concretizado? 

O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os PLP (Fórum Macau), tem três objectivos fundamentais na sua actividade:  consolidar o intercâmbio económico e comercial entre a China e os PLP, dinamizar o papel de Macau enquanto plataforma de cooperação entre a China e os PLP, e fomentar o desenvolvimento comum do Interior da China, dos PLP e da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). Estes três pontos mostram o potencial inexplorado das relações comerciais e de investimento entre a AGB e os PLP,  com especial destaque para o papel das pequenas e médias empresas (PME) sem, no entanto, ignorar gigantes do sector das telecomunicações como a Huawei ou a ZTE. 


Potencialidades da AGB ainda por explorar

Se analisarmos os sectores com vantagens comparativas dos PLP (oferta) e os cruzarmos com as principais áreas de procura da AGB (procura), nomeadamente os fluxos de comércio e de investimento, e se fizermos esse mesmo exercício em direção oposta, isto é, os sectores de vantagens comparativas da AGB (oferta) e cruzarmos com as principais áreas de procura dos PLP (procura), encontramos vários sectores de potencial interesse como  a agricultura e agroindústria, as infra-estruturas, a energia, a investigação científica e inovação, o cluster do mar, as tecnologias digitais e de informação e comunicação e a saúde. Em todos estes sectores, encontramos uma complementaridade entre a oferta de um dos lados e a procura do outro lado. Tomemos o exemplo do primeiro dos sectores identificados: a agricultura e a agroindústria. 

Considerando, por um lado,  o grande potencial nesses sectores dos Países de Língua Portuguesa e, por outro,  o “know-how” e investigação existente na AGB e em Portugal, as relações deveriam ser mais profundas e diversificadas, cobrindo toda a cadeia de valor, desde a produção agrícola, à industrialização, logística e marketing. Podemos referir aqui os exemplos das empresas Sino Agro Food e China Huashi Enterprises Company da província de Guangdong, a operarem com enorme sucesso nos sectores da aquicultura e agrícola em Angola.

O Fórum Macau, desde a sua criação em 2003, tem desempenhado um papel crucial como facilitador e promotor das relações entre a China  e os PLP nomeadamente na vertente empresarial com a realização de missões empresariais e institucionais ao Interior da China. Estas missões têm tido um alcance relativamente amplo e diversificado em províncias, permitindo o acesso dos agentes e empresas lusófonas ao topo da hierarquia administrativa e das empresas provinciais. A partir de 2018, o Fórum passou a organizar também missões empresariais e institucionais da China para os Países de Língua Portuguesa. Estas missões têm um potencial de impacto muito significativo. Os actuais responsáveis do Fórum já frisaram que, no futuro, o número de missões empresariais e o seu âmbito de actividades de intercâmbio  vão ser amplamente alargados. 

De salientar, no entanto, que as missões de delegações dos Países de Língua Portuguesa ao Interior da China, embora tenham tido uma ampla abrangência em termos de visitas a províncias chinesas, têm secundarizado a província de Guangdong que geograficamente coincide praticamente com a AGB. 

O Fórum Macau que tem focado a sua actividade quase exclusivamente na promoção de fluxos de exportação já indicou que vai passar igualmente a debruçar-se  sobre outros domínios das relações comerciais como sejam os fluxos ou projectos de investimento. 


Reforço das relações AGB e PLP devem passar pelas PME

O reforço das relações económicas, comerciais e de investimento entre a AGB e os PLP passam particularmente pelas Pequenas e Médias Empresas (PME). No entanto, muitas PME não dispõem dos recursos necessários de financiamento, aconselhamento, informação, e experiência para ultrapassar as barreiras linguísticas, culturais, legais e técnicas existentes que possam permitir o aprofundamento das relações económicas, comerciais e de investimento entre a AGB e os PLP. 

Por essa razão, o aprofundamento das relações económicas, comerciais e de investimento entre a AGB e os PLP podem passar por algumas iniciativas que têm vindo a ser discutidas com vista à sua implementação.

Em primeiro lugar, poder-se-ia acrescentar ao Fórum Macau um centro verdadeiramente empresarial, que conte com a participação das agências públicas de desenvolvimento de negócio da AGB e dos PLP, e das principais Câmaras de Comércio e Associações Empresariais, entre elas de PME em Guangdong. Este centro empresarial teria um trabalho primordial de identificação e acompanhamento de negócios e investimentos. Em particular, as Câmaras de Comércio e Associações Empresariais iriam desempenhar um papel essencial como interlocutores de confiança, como centros de recolha de informação e como selos de garantia de qualidade dos contatos a serem estabelecidos para ganhar conhecimento do mercado e dos seus “players”.

Em segundo lugar, e dentro da mesma estratégia de uma maior aproximação dos Países de Língua Portuguesa à Área da Grande Baía, o Fórum Macau  poderia criar a figura de Promotores do Fórum Macau que teriam por missão promover e desenvolver  um “business intelligence”, e de fazer o levantamento do potencial de cooperação, que identifica empresários e projectos na AGB e nos PLP, com destaque para as relações económicas entre as PMEs da AGB e dos PLP.

Na mesma linha de aproximação dos PLP à AGB, poderia ser criado um portal específico que funcione como Plataforma Digital de promoção de contactos, que remova as barreiras linguísticas e de conhecimento, à semelhança do que existe na América Latina com a bem sucedida plataforma ConnectAmericas. 

Complementarmente seriam promovidos e divulgados casos de sucesso que dessem visibilidade e replicabilidade ao potencial das relações económicas, comerciais e de investimento entre as PME da AGB e dos PLP.

As relações económicas, comerciais, financeiras e de investimento entre a AGB e os PLP apresentam complementaridade e um potencial inexplorado em sectores como a economia, o comércio, as finanças e o investimento. 

O Fórum Macau encontra-se numa situação privilegiada para actuar como facilitador no aproveitamento desse potencial e é esse o caminho que afirma pretender seguir no futuro, passadas que estão mais de duas décadas desde a sua criação.