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Trocas comerciais China-Brasil rumo a novo recorde
Tempo de liberação:2024-11-05
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No ano em que se assinalam os 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre a República Popular da China e o Brasil, o comércio bilateral entre os dois países deve voltar a registar um novo máximo – o quinto consecutivo


A estimativa é do próprio Governo do Brasil: em 2024, as trocas comerciais de mercadorias entre a China e o Brasil devem atingir um valor recorde. Isso mesmo disse em Agosto o Vice-Presidente do Brasil e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.


“Há 14 anos que a China é o maior e mais importante parceiro comercial do Brasil”, destacou o governante durante uma participação via vídeo no encerramento da conferência anual do Conselho Empresarial Brasil-China. No ano passado, de acordo com dados oficiais chineses, foi superada a fasquia dos 180 mil milhões de dólares americanos em trocas comerciais; este ano, de Janeiro até Junho, verificou-se uma taxa de crescimento superior a 13 por cento. A confirmar-se a estimativa de Geraldo Alckmin de um novo máximo, tal será um quinto recorde consecutivo, a acontecer num ano especial: em 2024, assinalam-se os 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre a República Popular da China e o Brasil.


No primeiro semestre deste ano, o valor do comércio de mercadorias sino-brasileiro atingiu já quase 94 mil milhões de dólares americanos. A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009.


Entre Janeiro e Junho deste ano, as exportações brasileiras para a China atingiram 58,9 mil milhões de dólares americanos, o que representa um acréscimo anual de 8,3 por cento, de acordo com estatísticas dos Serviços de Alfândega da China. Em sentido inverso, as vendas chinesas ao Brasil tiveram um acréscimo anual de 24,4 por cento, atingindo 35,1 mil milhões de dólares.


No ano passado, o mercado chinês foi o destino de mais de 30 por cento das exportações brasileiras, superando a fasquia dos 100 mil milhões de dólares americanos. A contribuir para estes valores estiveram as vendas de produtos alimentares e matérias-primas, nomeadamente soja, minério de ferro e petróleo.


Do minério ao e-commerce


Uma das áreas-chave na relação bilateral é o sector da mineração. Segundo representantes da brasileira Vale, um dos maiores operadores mundiais neste campo, no ano passado, dos cerca de 380 milhões de toneladas de minério de ferro exportados pelo Brasil, 64 por cento tiveram a China como destino. 


A própria Vale desempenhou um papel histórico no processo de aproximação diplomática entre o Brasil e a República Popular da China: em 1973, ainda antes do estabelecimento de relações oficiais entre os países, a empresa, então a estatal Vale do Rio Doce, enviava, pela primeira vez, uma carga de 20 mil toneladas de minério de ferro numa viagem de 20 mil quilómetros para a China.


O gerente geral da representação na Ásia e no Pacífico da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Rodrigo Gedeon de Melo, sublinha que os exportadores brasileiros devem acompanhar as transformações da economia chinesa e adoptar estratégias comerciais específicas para o mercado da China. Segundo referiu durante um webinar recente sobre as relações comerciais sino-brasileiras, tal inclui desenvolver políticas de regionalização para o mercado chinês, ter uma presença local e construir uma imagem de marca junto dos consumidores chineses.


Para o responsável da ApexBrasil, os produtores e exportadores brasileiros devem também explorar novas formas de entrada no mercado da China. Segundo Rodrigo Gedeon de Melo, tal inclui o comércio electrónico, com forte penetração junto do público chinês.


Reforço da cooperação


Foi a 15 de Agosto de 1974 que a República Popular da China e o Brasil estabeleceram, oficialmente, os primeiros canais diplomáticos bilaterais. De acordo com dados do lado brasileiro, desde então, o valor das trocas comerciais sino-brasileiras teve um crescimento nominal de mais de 5.300 vezes.


Numa mensagem enviada ao homólogo brasileiro por ocasião do 50.º aniversário das relações diplomáticas entre os dois países, o Presidente chinês, Xi Jinping, sublinhou que "a China e o Brasil, ambos grandes países em desenvolvimento e importantes mercados emergentes, são bons amigos e parceiros que pensam da mesma forma, que dão as mãos e avançam juntos". Ao longo do último meio século, acrescentou o líder chinês, a relação bilateral entre as duas nações "manteve um desenvolvimento estável, com uma influência global cada vez mais abrangente, estratégica e proeminente". A China "está pronta para utilizar as celebrações como um novo ponto de partida para fortalecer continuamente o alinhamento das estratégias de desenvolvimento entre as duas nações", referiu ainda.


Num artigo assinado em Agosto no jornal China Daily, o Presidente brasileiro, Lula da Silva, escreveu que os dois países construíram, ao longo dos últimos 50 anos, uma parceria que “fortaleceu os laços comerciais, culturais, científicos e tecnológicos” entre os dois lados. O governante recordou que a China consolidou, ao longo da última década, o seu papel de maior parceiro comercial do país sul-americano, ao passo que, “nos últimos sete anos, o Brasil tem sido o maior fornecedor externo de alimentos para a China e contribuído para a sua segurança alimentar”.


O líder brasileiro notou também que o seu país foi o quarto maior destino de investimento chinês no exterior, nomeadamente no período entre 2005 e 2022. “Esses investimentos são vitais para o desenvolvimento e a modernização das nossas infra-estruturas e indústria”, sublinhou.


De forma a reforçar a parceria bilateral, o Brasil tem vindo a expandir a sua rede diplomática na China. Em Junho, o país sul-americano inaugurou um consulado-geral na cidade de Chengdu, na província de Sichuan, tornando-se no terceiro consulado do Brasil no Interior da China: os outros estão localizados em Xangai e Guangzhou. A nova área consular abrange o município de Chongqing e as províncias de Sichuan, Guizhou, Yunnan e Shaanxi.


Olhando para o futuro, Lula da Silva assegurou, no seu artigo no China Daily, estar confiante de que os dois países serão capazes de encontrar novas áreas para expandir a cooperação bilateral. “A China e o Brasil estão a pavimentar o caminho certo para elevar a Parceria Estratégica Global [entre os dois países] a um novo patamar, com uma forte componente de cooperação tecnológica e que será capaz de promover resultados verdadeiramente transformadores para as nossas sociedades”, concluiu.