Angola tem um território vasto, uma linha de costa extensa, vastas áreas cultiváveis, um clima favorável ao desenvolvimento de várias culturas agrícolas e recursos hídricos abundantes, com 47 zonas aquáticas compostas por cinco sistemas fluviais. Por conseguinte, Angola possui um enorme potencial para o desenvolvimento agrícola. Actualmente, o desenvolvimento económico de Angola ainda depende muito da exportação de petróleo. O crescimento económico instável, o baixo nível de diversificação económica e as elevadas taxas de pobreza e desigualdade continuam a perturbar o governo angolano. Neste contexto, o desenvolvimento agrícola é uma estratégia necessária para o governo angolano alcançar a segurança alimentar, diversificar a economia e reforçar a capacidade produtiva, de modo a ajudar a reduzir a sua dependência da importação de produtos agrícolas.
Angola possui cerca de 58 milhões de hectares de solo arável, dos quais aproximadamente 5,7% foram desenvolvidos e aproveitados. Em termos de produtores agrícolas, o maior grupo de agricultores em Angola são os pequenos produtores individuais (agricultura familiar) que possuem menos de 5 hectares (47,3%). Em seguida, estão as fazendas de média e pequena dimensões constituídas sob a forma de sociedades de responsabilidade limitada (26%), enquanto as explorações agrícolas comerciais de grande dimensão com mais de 100 hectares pertencem normalmente a empresas públicas (estatais), representando 22,1% do total de fazendas.
Fonte de dados: Ministério da Agricultura e Pescas de Angola
Devido à implementação do “Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações” (PRODESI), a produção total de arroz, milho, trigo e soja em Angola aumentou em 24%, entre 2017 e 2021. Em particular, registou-se um aumento de 25% na produção de milho e 12% na produção de arroz. Em 2021, o valor da produção agrícola representou cerca de 9,5% do PIB de Angola, sendo o sector agrícola a principal fonte de renda para a maioria da população do país. Dado que mais de metade dos alimentos consumidos no país dependem da importação, a taxa de inflação em Angola tem-se mantido em níveis elevados este ano, por causa do aumento dos preços dos grãos no mercado internacional em consequência da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Tabela 1: Volume de produção de arroz, milho, trigo e soja, de 2017 a 2021
Fileira | Culturas seleccionadas | Produção 2017 (toneladas) | Produção 2018 (toneladas) | Produção 2019 (toneladas) | Produção 2020 (toneladas) | Produção 2021 (toneladas) | Variação absoluta (2017–2021) | Variação relativa (2017–2021) |
Cereais | Arroz | 9,426 | 9,699 | 10,102 | 10 567 | 10,514 | 1,088 | 12% |
Milho | 2,380,522 | 2,762,619 | 2,818,684 | 2 972 177 | 2,970,209 | 589,686 | 25% | |
Trigo | 8,505 | 4,474 | 9,172 | 9 368 | 8,100 | -405 | -5% | |
Leguminosas | Soja | 36,001 | 35,266 | 37,350 | 37 961 | 37,317 | 1,315 | 4% |
Total | 2,434,454 | 2,812,058 | 2,875,308 | 3,030 073 | 3,026,140 | 591,686 | 24% | |
Fonte de dados: Ministério da Agricultura e Pescas de Angola |
Embora a produção de grãos em Angola tenha aumentado, existe ainda uma grande escassez no contexto de um enorme mercado doméstico. Em 2021, o volume total de importação das culturas de arroz, milho, trigo e soja para Angola foi de 1.326.070 toneladas, no valor de 791 milhões de dólares, registando um aumento de 60% em relação a 2017. O trigo teve a maior proporção, representando 39% do total, seguido pelo arroz, representando 33%.
Tabela 2: Volume de importação de arroz, milho, trigo e soja, de 2017 a 2021 (toneladas)
Importação (toneladas) | ||||||||
Fileira | Culturas seleccionadas | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | Taxa de crescimento (média anual) | Taxa de crescimento (2020-2021) |
Cereais | Arroz | 37,420 | 350,725 | 455,352 | 537,971 | 488,722 | 90% | -9% |
Milho | 435,506 | 241,367 | 209,706 | 139,762 | 138,984 | -25% | -1% | |
Trigo | 588,494 | 634,134 | 595,245 | 768,602 | 599,461 | 0% | -22% | |
Leguminosas | Soja | 23,898 | 144,440 | 182,505 | 77,489 | 98,902 | 43% | 28% |
Total | 1,085,318 | 1,370,676 | 1,442,358 | 1,523,824 | 1,326,070 | 5% | -13% | |
Fonte de dados: Administração Geral Tributária de Angola |
Tabela 3: Valor de importação de arroz, milho, trigo e soja, de 2017 a 2021 (mil dólares)
Valor de importação (mil dólares) | ||||||||
Fileira | Culturas seleccionadas | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | Taxa de crescimento (média anual) | Taxa de crescimento (2020-2021) |
Cereais | Arroz | 23,438 | 251,691 | 286,857 | 347,980 | 263,462 | 83% | -24% |
Milho | 161,866 | 123,793 | 77,753 | 71,056 | 73,259 | -18% | 3% | |
Trigo | 270,254 | 286,052 | 291,774 | 287,712 | 305,197 | 3% | 6% | |
Leguminosas | Soja | 39,083 | 118,314 | 120,673 | 92,567 | 149,839 | 40% | 62% |
Total | 494,640 | 779,850 | 777,057 | 799,316 | 791,757 | 12% | -1% | |
Fonte de dados: Administração Geral Tributária de Angola |
Segundo as previsões do Ministério da Agricultura e Pescas de Angola, até 2027, o consumo anual de arroz, milho, trigo e soja alcançará 10.239.394 toneladas. Caso a capacidade de produção de grãos do país seja ainda baixa nessa altura, isso pode resultar em maior dependência da importação de grãos por parte do país. Com o objectivo de garantir a segurança alimentar, de aumentar receitas e de reforçar a competitividade de Angola, para transformar Angola num grande produtor de grãos na região centro-sul da África a médio prazo, o governo angolano lançou, em 2022, o “Plano Nacional de Fomento para a Produção de Grãos” (doravante designado por PLANAGRÃO) e propôs aumentar a produção de grãos, especialmente arroz, milho, trigo e soja, principalmente nas províncias do leste do país, incluindo as quatro províncias de Lunda Norte e Lunda Sul, do Moxico e do Cuando Cubango. Com este plano, procura-se atingir a meta a curto prazo, a saber, uma área de cultivo de 2 milhões de hectares no país e um volume de produção de grãos de 6.104.282 toneladas, até 2027.
De momento, o desenvolvimento das micro, pequenas e médias empresas agrícolas em Angola está a enfrentar sérios desafios. A escassez de capital e crédito, as infra-estruturas precárias, as capacidades técnicas limitadas e a falta de acesso ao mercado (factores incluem altos custos e/ou falta de meios de transporte) são os factores restritivos ao desenvolvimento. Devido à dificuldade em obter informações de mercado, os pequenos produtores têm fraca capacidade de negociação. E ainda por cima, a falta de condições de armazenamento, de processamento e de transporte agrava a sua vulnerabilidade. Além disso, a produtividade é severamente afectada pela utilização e disponibilidade limitada de sementes de alta qualidade, fertilizantes e mecanização, pelas práticas agrícolas inadequadas, pela área limitada de irrigação e pela falta de transmissão dos conhecimentos agrícolas. A título de exemplo, estima-se que 94% das sementes de milho plantadas pelos agricultores de Angola sejam provenientes de sementes cultivadas nas próprias fazendas ou de grãos e sementes reproduzidos pelos agricultores. Em caso de outras culturas (como legume seco, painço, sorgo, amendoim e trigo), a proporção é ainda maior, o que resulta em baixa produção de culturas.
Portanto, para alcançar os objectivos de produção estabelecidos no PLANAGRÃO, o governo angolano alocará um total de 2,85275 biliões de kwanzas (cerca de 5,705 mil milhões de dólares) para o desenvolvimento de e o apoio às actividades de produção de grãos, durante o período de 2023 a 2027. Em particular, o governo angolano vai realizar um investimento público de 1,17815 biliões de kwanzas (cerca de 2,356 mil milhões de dólares) para financiar a construção de infra-estruturas, as despesas básicas de divisão de terras e a construção de estradas para áreas de produção. Quanto aos restantes 1,6746 biliões de kwanzas (cerca de 3,349 mil milhões de dólares), o governo angolano vai colaborar com o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) e o Fundo Activo de Capital de Risco de Angola (FACRA) para fornecer financiamento às actividades de produção de grãos no sector privado. O BDA indicou que a taxa de juros anual desse crédito especializado é de cerca de 7,5%.
Tabela 4: Fontes dos fundos (mil kwanzas e mil dólares)
Componentes | 2023 | 2024 | 2025 | 2026 | 2027 | Total | |
Investimentos públicos | Infra-estruturas | 173,484,342 | 199,730,539 | 232,242,038 | 266,839,072 | 305,852,721 | 1,178,148,712 |
Subtotal | 173,484,342 | 199,730,539 | 232,242,038 | 266,839,072 | 305,852,721 | 1,178,148,712 | |
Crédito público | BDA | 246,358,204 | 275,299,279 | 311,157,292 | 349,346,355 | 392,442,254 | 1,574,603,383 |
FACRA | 20,000,000 | 20,000,000 | 20,000,000 | 20,000,000 | 20,000,000 | 100,000,000 | |
Subtotal | 266,358,204 | 295,299,279 | 331,157,292 | 369,346,355 | 412,442,254 | 1,674,603,383 | |
Total | AOA | 439,842,546 | 495,029,818 | 563,399,329 | 636,185,426 | 718,294,975 | 2,852,752,095 |
USD | 879,685 | 990,060 | 1,126,799 | 1,272,371 | 1,436,590 | 5,705,504 | |
Fonte de dados: Ministério da Agricultura e Pescas de Angola | Taxa de câmbio 1 USD = 500 AOA |
Os últimos cinco anos e os próximos cinco anos são períodos em que o governo angolano tem uma forte vontade de procurar cooperação para o desenvolvimento agrícola. Será um bom momento para desenvolver projectos agrícolas em Angola, um convite lançado às empresas e investidores chineses.