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Arte indígena dos Países de Língua Portuguesa
Tempo de liberação:2023-08-15
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A arte dos nove países e territórios de língua portuguesa documenta riqueza e história, em que cada peça é parte do legado de um povo, através da qual é possível ficar a conhecer uma história ou interpretar uma cultura.
Das intrincadas esculturas em madeira do povo Maconde, em Moçambique, as belas tecelagens de Timor-Leste, às máscaras ornamentadas da Guiné-Bissau e às famosas bonecas angolanas, há uma história cultural a ser descoberta, admirada, exibida e recontada.
Macau seria um excelente local para descobrir estas peças de arte de outrora. É um território onde o Português é uma das línguas oficiais, é a sede do Fórum de Macau e é visto como um forte elo entre os países lusófonos e a China.


Instrumentos musicais em Portugal

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O Museu Nacional de Etnologia, em Lisboa, alberga uma colecção de artefactos tradicionais portugueses, entre os quais se destacam os instrumentos musicais tradicionais.

Em quase todas as comunidades rurais, a música tem uma dimensão lúdica, mas é também através dela que a comunidade se reúne para partilhar ideias e histórias, relaxar e conhecer-se. A guitarra usada no fado tradicional é bem conhecida, mas existem outros instrumentos próprios de Portugal. Um deles é o cavaquinho, um pequeno instrumento de quatro cordas que se acredita ter influenciado directamente o desenvolvimento do ukulele no Havaí, depois de levado para a ilha no final do século XIX.


Bonecas angolanas

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Faz parte daquele espólio uma intrigante colecção de bonecas das províncias angolanas do Namibe, Huíla e Cunene, na região sudoeste do país. Foram criadas pelo povo bantu, formado por várias centenas de grupos étnicos indígenas da África subsaariana.

O que mais chama a atenção nas bonecas talvez sejam as cores ousadas dos tecidos – principalmente tons de vermelho – nos vestidos e as esferas lisas de madeira como cabeças.

Trata-se de um raro exemplo de objecto que serve tanto como brinquedo quanto para rituais de fertilidade.

Outro elemento, talvez mais conhecido, da arte indígena angolana é a multiplicidade de esculturas, que podem servir como objectos ritualísticos, ou forma de contar a história de um povo, como as máscaras de madeira do povo Chokwe, que se encontra em Angola, mas também na República Democrática do Congo e na Zâmbia.

O reino Chokwe tinha uma localização central em Angola e desenvolveu importantes rotas comerciais no século XIX, dando acesso ao marfim e à borracha. Muitas das esculturas são retratos que representam a linhagem real. Outras, como cajados, cetros e lanças, feitos em madeira, mas também em pelo animal, celebravam a corte.

As máscaras do povo Chokwe, muitas vezes com cabelo verdadeiro, representam, em alguns casos, o mundo espiritual e são usadas por ambos os sexos em rituais de fertilidade e prosperidade.


Artistas e guerreiros de Moçambique

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O povo Maconde pode ser encontrado tanto no norte de Moçambique, quanto no sul da Tanzânia.

Apesar do contacto com o cristianismo e o islamismo, os macondes mantiveram as crenças religiosas indígenas e as práticas voltadas para a celebração e lembrança dos ancestrais. São guerreiros destemidos que se opuseram fortemente ao domínio colonial no norte de Moçambique. A sua arte, sobretudo a talha em ébano, é parte essencial do estilo de vida e também fonte de rendimento para a comunidade.

A arte maconde está presente nos objectos domésticos, elaborados para conter elementos esteticamente agradáveis, nas máscaras, usadas em rituais e esculturas, e em objectos puramente decorativos.


Mística Guiné-Bissau

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Uma das principais culturas da Guiné-Bissau é a Nalu, que conta com um universo de cerca de 20 mil pessoas.

Na sua forma única de animismo, os Nalu seguem Alá ao mesmo tempo que consultam as xamãs, acreditam em espíritos e lembram os ancestrais. Figuras de madeira, muitas vezes usadas ou carregadas na forma de máscaras, são usadas em rituais de iniciação. Grandes figuras de serpentes de madeira também aparecem em cerimónias e figuras antropomórficas esculpidas são colocadas em santuários.

Nas ilhas dos Bijagós destaca-se a arte Bidyogo. Feitas de madeira e muitas vezes coloridas, as estátuas de Bidyogo são esculpidas para abrigar os espíritos dos ancestrais. Figuras sentadas são geralmente usadas para adivinhação e magia. A arte nesta região é muitas vezes considerada única em relação ao resto de África.


A arte do Amazonas

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No estado do Amazonas, um dos 27 do Brasil, mais de mil tribos vivem na imensa floresta amazónica, o “pulmão do mundo”.

A sua arte está ligada a um modo de vida tradicional, no qual é essencial a tecelagem especial de cestos e o trabalho meticuloso de criação de dardos com penas, bem como a preparação de membros da comunidade para rituais, seja através da criação de pinturas corporais intrincadas ou da composição de tiaras ornamentais ou “diademas” aos quais são adicionadas penas.


A magia do teatro

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As ilhas de São Tomé e Príncipe eram desabitadas até à descoberta pelos portugueses em 1470, mas só no século XVI o país se tornou num centro importante para Portugal, como “escala comercial” no Oceano Atlântico.

De natureza europeia, principalmente nos temas, o ‘tchiloli’, que significa ‘teatro’ na língua local, deriva da tradição carolíngia do século XI, da época da dinastia franca que foi estabelecida para governar a Europa ocidental nos séculos VIII e IX. Carlos Magno, rei dos francos e imperador do Sacro Império Romano naquela época, é o tema da peça mais famosa das ilhas: ‘A Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carlos Magno’. Escrita no século XVI pelo poeta madeirense Baltazar Dias, a peça foi adaptada em São Tomé e Príncipe e tornou-se africana na forma como é contada. A peça pode durar dias, lembrando os contadores de histórias nas sociedades nativas.

Os actores usam máscaras únicas, feitas de redes finas, com expressões faciais pintadas. Só os homens podem actuar, seguindo a tradição medieval europeia.


Poesia, música e barro em Cabo Verde

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Também Cabo Verde, ao largo da costa da África Ocidental, só foi habitado pela primeira vez com a chegada dos portugueses, no século XV. Muitos exemplos de expressões artísticas tradicionais no arquipélago chegaram até aos nossos dias. A rica tradição literária, como a poesia de Jorge Barbosa, em meados do século XX, e as obras musicais, como as canções de Cesária Évora nos anos de 1980 e 1990.

Na ilha da Boa Vista, a olaria é uma arte importante. Embora tenha começado principalmente como produção de utensílios domésticos, a forma única como o barro encontrado na ilha é moldado à mão, sem o auxílio de uma roda, tornou-o popular para os turistas, transformando-o numa actividade essencial para a economia local.


Tecendo em Timor-Leste

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Feito de algodão e tecido à mão por mulheres, o pano ‘tais’ é um tecido único. Tradicionalmente, os homens usam o ‘tais mane’, segurando-o na cintura, enquanto as mulheres carregam o ‘tais feto’, uma espécie de vestido longo sem mangas.

Cores e padrões variam de acordo com a região, mas, de um modo geral, o vermelho simboliza coragem e sangue, e quanto mais a cor aparece, mais importante é a pessoa. O ouro é reservado para rituais ou ocasiões especiais. Já nascimentos, casamentos, funerais, apresentação de uma nova casa ou eventos comunitários exigem tipos específicos de ‘tais’.

Os ‘tais’ também desempenham um papel importante na subsistência das comunidades de Timor-Leste. Objectos do quotidiano são agora produzidos no tecido tradicional, que manteve a sua magia.

A riqueza na arte indígena estende-se ao longo dos tempos, em todo o mundo. Vida, rituais e magia desempenham um papel importante nesses objectos históricos. Muito mais do que apenas decoração, trazem histórias de séculos e de vivências de outrora aos nossos dias.